Fazendo funcionar o Pensamento Estatístico – Parte 2
Há três artigos sobre Pensamento Estatístico:
- Parte I. Conceitos sobre Pensamento Estatístico: explica os três princípios que compõem o pensar estatisticamente.
- Parte II. Fazendo funcionar o Pensamento Estatístico: demonstra a importância de saber reconhecer as causas comuns e causas especiais de variação e a importância de os gerentes fazerem dois tipos de trabalhos, gestão do dia a dia e melhoria e inovação de seus processos.
- Parte III. Casos de ilustração da variação estatística: exemplos sobre como lidar com a variação mostrando diversos exemplos que se apresentam na vida real.
O Pensamento Estatístico pode ser esquematizado na Figura 1 (levemente modificado a partir de Snee, 1990). A figura integra as ideias de processos, variação, análise, desenvolvimento de conhecimento, ação e melhoria da qualidade e para quem conhece as ideias de Lean Six Sigma, tem ligação estreita com o avanço do DMAIC:
- Quando surge a necessidade de fazer melhoria em um processo (reduzir a variabilidade ou mudar a média) o primeiro trabalho é analisar o processo para identificar as etapas que podem ter maior contribuição para atingir nosso objetivo.
- A seguir, deve-se analisar os dados para identificar se estamos lidando com um problema de causa especial (efeito grande, mas de curta duração, como um carro que para numa faixa de uma avenida movimentada) ou um problema de causa comum (muitas fontes de efeito pequeno; no caso da avenida, farol ligado por tempo maior, dia da semana, chuva, hora do dia…).
- Se é causa especial usualmente é mais fácil de detectar, deve-se eliminar essa causa pontual para que o processo retorne a seu estado normal.
- Mas se é uma causa comum, deve-se “arregaçar as mangas”, formar um time com suporte da gestão e analisar todos os fatores para mudar o processo.
- Concluída a etapa de melhoria, controla-se o processo e eventualmente se reinicia o processo de melhoria contínua.

Uma questão fundamental no esquema da Figura 1 é a diferenciação de causa comum e causa especial
As variações de causa especial e de causa comum são ilustradas na Figura 2. Geralmente tratamos a variação de causa especial encontrando sua causa e desenvolvendo soluções para prevenir sua recorrência. Esta abordagem baseia-se no uso de métodos de ferramentas de resolução de problemas. Este tipo de causa usualmente é mais evidente e simples de resolver e por esse motivo pode ser tratada pelos operadores.

Mas nem sempre um sistema estável com causas comuns é necessariamente bom, como numa situação em que a taxa de retrabalho se mantém estável, mas elevada. A redução da variação de causa comum, por outro lado, concentra-se na melhoria do sistema. Isso normalmente requer o desenvolvimento do conhecimento do sistema por meio de um estudo extensivo e, em seguida, o envolvimento da administração para fazer as mudanças necessárias. Este tipo de causa exige mais estudo, tempo e dedicação e por esse motivo precisa do maior envolvimento da gestão. Aquele gerente que não percebe que está em uma situação de causas comuns e toma ações de causa especial, fará que o sistema permaneça estável em um nível inadequado. É aquela situação de “mexida contínua” ao invés de melhoria contínua.
Distinguir entre variação de causa especial e causa comum é a chave para reduzir a variação de forma eficaz para que os problemas associados não apareçam novamente. Devemos compreender que diferentes tipos de ações são necessários, especialmente por parte da gestão, para lidar eficazmente com variações de causas comuns e de causas especiais.
Juran, um dos gurus da qualidade, destacou que a origem da maioria dos problemas está no processo. A “culpa” é do processo e não das pessoas quando se trabalhava na melhoria do sistema. Juran afirma que “85% dos problemas estão no processo e os restantes 15% são devidos às pessoas que operam o processo”. Deming, outro guru da qualidade, afirmou que o número verdadeiro é mais parecido com 96/4, ou seja, 96% dos problemas estão no processo ou sistema e os 4% restantes são devidos às pessoas. Embora exista uma diferença entre os números fornecidos pelos dois “gurus da qualidade”, obviamente a grande maioria dos problemas está no processo/sistema.
Um dos desafios mais difíceis do gestor é como usar corretamente o pensamento estatístico para ajudá-lo a tomar decisões eficazes. Muitos gestores tratam todos os problemas como causas especiais. Quando surge um problema, querem resolvê-lo o mais rapidamente possível para voltar às suas atividades diárias de trabalho. Não percebem que muitos dos problemas estão no sistema ou processo e só podem ser resolvidos com o seu total apoio e aprovação. O resultado é que a gestão gasta muito tempo “combatendo incêndios”, resolvendo o mesmo problema repetidas vezes porque o sistema não foi alterado. Isso não vai mudar enquanto não se usar estrategicamente o pensamento estatístico.
Os gestores não devem apenas utilizar ferramentas estatísticas simples e poderosas quando o problema surge, mas também pensar estrategicamente do ponto de vista estatístico para melhorar todos os processos de negócios e reduzir a variabilidade. Compreender a natureza única das causas comuns e especiais é a chave para reduzir a variação e melhorar a qualidade, a produtividade e a lucratividade.
Esta forma de trabalho pode ser ilustrada na Figura 3. A matriz do tempo de Covey nos mostra que a forma mais produtiva de utilizar o tempo é focar no quadrante 1 (questões importantes e não urgentes). Mas essa atividade é chata, cansativa, exige “pensar e analisar”! Por outro lado, as atividades do quadrante 2 são viciantes, é pura adrenalina, o tempo voa! Isso faz com que a distribuição do tempo não seja a ideal (conforme Juran). Todo mundo dedica muito tempo a apagar incêndio ao invés de mudar o sistema.

O grande resumo
Makrymichalos (2005) conclui que as empresas começaram a responder à nova era econômica em que vivemos. Grande parte disso visa melhorar o desempenho de tudo o que fazemos.
Os funcionários e os gestores do século XXI têm duas funções:
- Realizar o seu trabalho normal,
- Melhorar e inovar continuamente a forma como realizam seu trabalho.
A atenção dada à melhoria trouxe uma ênfase renovada na estatística e, em particular, no pensamento estatístico, mas nem sempre esse aumento no uso da estatística tem contribuído para realizar as mudanças necessárias. As principais razões identificadas para isso são:
- O Pensamento Estatístico é pouco utilizado para questões gerenciais e quando é utilizado concentra-se em ações de “combate a incêndios”.
- Existe uma educação estatística inadequada, resultando num medo das estatísticas.
- Por fim, há sempre uma resistência em mudar a forma como as pessoas gerem os processos.
Os gestores devem compreender que o pensamento estatístico é muito mais do que um conjunto de ferramentas e técnicas estatísticas. Primeiramente, o pensamento estatístico é uma filosofia, um conceito de que existe variação em todos os processos e que a redução da variação melhora o desempenho do produto ou serviço e em consequência o próprio negócio.
Referências
- Makrymichalos, M. et al (2005).”Statistical thinking and its role for industrial engineers and managers in the 21st century”, Managerial Auditing Journal, Vol. 20/ 4 p. 354 – 363.
- Ronald Snee (1990). Statistical Thinking and Its Contribution to Total Quality. The American Statistician, vol. 44, nº 2, p. 116-121.
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